Na descrição da criação do mundo, no livro do Gênesis, a Bíblia diz que os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus (capítulo 1, versículo 27). Ou seja, somos “cópias” do próprio Deus, embora empobrecidas e distorcidas, por conta das nossas limitações em comparação com Ele.
Agora, o que significa na prática termos sido criados à imagem e semelhança d´Ele? Será que isso significa que somos fisicamente parecidos com Deus? Ou nossa semelhança com Ele tem a ver com outras características nossas?
Nossa semelhança com Deus não é física – no sentido da semelhança que costuma existir entre pais e filhos(as) – e é fácil perceber isso. Afinal, Deus é espírito e nós somos feitos de carne e sangue. Ele não tem sexo – a própria Bíblia o apresenta tanto com caráter masculino (a imagem mais comum) como feminino.
E quando a Bíblia se refere a “olhos”, “braços”, “pés” ou até “asas” de Deus isso não deve ser entendido literalmente, como se Ele tivesse esses órgãos. Trata-se de linguagem simbólica usada pelos escritores bíblicos para tentar explicar Deus.
Ora, se não nos parecemos com Deus no aspecto físico, onde está a semelhança? Para responder essa pergunta, é preciso buscar no texto do Gênesis aquilo que é revelado sobre as características de Deus para ver o que se parece conosco.
A primeira característica de Deus amplamente revelada no Gênesis é sua capacidade criadora: Ele fez o mundo a partir do nada. E quem observa com cuidado o mundo que nos rodeia, acaba maravilhado(a) com a beleza da sua estrutura.
O ser humano se parece com Deus na capacidade criadora: Também consegue, do quase nada, criar coisas maravilhosas. Por exemplo, um artista pega uma tela em branco, alguns pincéis e vários tubos de tinta e faz um quadro que emociona e causa admiração.
Os telefones celulares, os computadores e a Internet, para ficar apenas no campo da tecnologia da informação, são obras admiráveis, embora no seu aspecto físico sejam constituídas de um monte de pedaços de plástico, um pouco de cobre e silício, bem como alguns outros metais.
Somente o ser humano, em toda a natureza, tem esse tipo capacidade criadora e nesse fato fica demonstrada a existência de uma centelha divina em nós.
O relato da criação do mundo também mostra Deus ordenando os recursos naturais para fazer deles um conjunto que funciona de maneira admirável, atendendo um objetivo comum (dar condições de haver vida na terra).
O ser humano tem capacidade similar: Consegue ordenar os recursos da natureza e estruturar sociedades e sistemas econômicos de grande complexidade, que funcionam bastante bem.
Outra semelhança está no discernimento do que é certo ou errado. Deus estabeleceu padrões morais que são universais – por exemplo, pais devem cuidar dos filhos enquanto pequenos e filhos dos pais, quando os últimos envelhecem. Matar outro ser humano de forma gratuita é errado. Trair a confiança das pessoas ou demonstrar covardia também.
Esses são princípios morais existentes em praticamente todas as culturas, independentemente do seu grau de desenvolvimento. Para Deus, portanto, está muito claro o que é correto fazer e Ele revelou sua posição para a humanidade nas leis morais (mandamentos) que estabeleceu para nós.
E o ser humano tem a mesma capacidade de distinguir o certo do errado – aliás, o relato do pecado de Adão e Eva (quando eles comeram o fruto proibido) gira exatamente em torno dessa questão.
Só os seres humanos têm capacidade de lidar com questões morais em toda a natureza. Os animais se comportam de determinada forma apenas por instinto e não por terem um código moral – por exemplo, uma mão pode se arriscar a perder a própria vida para proteger os filhotes do ataque de um predador, mas, mais adiante, irá abandonar sua prole quando os filhotes crescerem.
Em resumo, o ser humano é semelhante a Deus em aspectos como sua capacidade criadora e de organização dos recursos naturais para construir sistemas complexos, assim como no entendimento de regras morias. Nisso somos mais parecidos com Ele do que qualquer outro tipo de criatura – nem os anjos têm as mesmas capacidades.
Agora, somos diferentes de Deus nas escolhas que fazemos. Ele sempre escolhe o certo, mas nós não. Somos pecadores e nos deixamos levar pelas aparências e por sentimentos como orgulho, inveja e ambição.
Por isso, usamos nossa semelhança com Deus para fazer o que é mal. Por exemplo, nossa criatividade é empregada para fabricar armas cada vez mais sofisticadas, para sustentar um consumo cada vez mais desenfreado, para gerar riquezas que são acumuladas por poucas pessoas e assim por diante.
Nossa capacidade para coordenar e dirigir nos permite travar guerras longas, em locais distantes, ou montar esquemas sofisticados de exploração dos mais fracos, ou ainda estabelecer ditaduras que esmagam as pessoas.
Finalmente, nosso discernimento do bem e do mal nos permite elaborar leis que procuram trazer a justiça social, mas também nos permite encontrar mecanismos para deixar de cumpri-las sem nos sentirmos culpados. Permite que criemos desculpas para nós mesmos que acalmes nossas consciências: Por exemplo, “não tenho tempo para fazer isso“, ou “preciso pensar primeiro em mim mesmo, pois eu mereço“, ou ainda “faço tal coisa porque todo mundo também faz“.
Concluindo, Deus nos deu capacidades maravilhosas e cabe a cada um(a) de nós saber usá-las da forma certa. Faça sua parte! Não desperdice o que Deus lhe deu!
Com carinho