POR QUE EXISTE O MAL NO MUNDO? 2ª parte

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Na primeira parte desse estudo, postado dois dias atrás, apresentei o chamado “Problema do Mal”, que pode ser resumido assim: se Deus é bom e onipotente, por que permite a existência de mal no mundo? Se Ele não faz isso, é porque não é onipotente ou não é bom de verdade.

Apresentei ali a resposta básica do cristianismo: a essência do mal que existe no mundo se deve às escolhas erradas e livres feitas pelos próprios seres humanos, escolhas essas que geram injustiças, desigualdade social, corrupção, crime, poluição, etc. E a liberdade de escolher que os seres humanos têm é fruto do livre arbítrio que Deus lhes concedeu.

Mas essa explicação não cobre todo o mal existente no mundo, já que não contempla, por exemplo, os desastres naturais, os chamados “atos de Deus”. Coisas como o tsunami que matou centenas de milhares de pessoas na Indonésia cerca de 10 anos atrás. E não é possível atribuir a origem desses terríveis eventos às escolhas erradas dos seres humanos.

DEUS E OS DESASTRES NATURAIS

Mesmo nas catástrofes, parte do mal é causado por escolhas humanas erradas. Por exemplo, se as pessoas constroem casas em locais sujeitos a deslizamentos de terra, como na região serrana do Rio, e os governos nada fazem para impedir isso, quando as chuvas chegam e muitas pessoas morrem, é justo considerar Deus responsável? Poderia citar muitos outros exemplos, como as usinas nucleares construídas em regiões sujeitas a terremotos ou as cidades construídas ao pé de vulcões.

Mas ainda assim há sofrimento gerado por esses desastres que não depende das escolhas das pessoas. Como explicar tal fato sem caracterizar que Deus é ruim ou não tem poder para impedir tais situações?

Começo a fazer isso lembrando de uma das mais importantes forças da natureza: a gravidade. E ela que nos mantem “grudados” à superfície da Terra e sem ela não seria possível haver vida. Agora, essa mesma força irá causar a morte de uma pessoa que cai de certa altura. Seria Deus responsável pela morte dessa pessoa por ter criado a força da gravidade? Isso significa que Deus é mau?
Vamos olhar essa mesma questão de outra forma: seria possível para Deus ter criado um mundo viável sem contar a força da gravidade? Se isso fosse possível, seria razoável dizer que Deus não fez seu trabalho criador da melhor forma e assim teria responsabilidade pelas consequências negativas da força da gravidade.

Agora, qual ser humano teria suficiente conhecimento e capacidade para “bolar” um mundo alternativo, onde não ocorressem problemas semelhantes aos causados pela gravidade? Nenhum, com certeza.

Na verdade, penso que Deus fez o melhor mundo que poderia ser feito, mas isso não quer dizer que as forças necessárias para seu funcionamento estejam isentas de eventualmente gerar consequências negativas para as pessoas.

Por exemplo, a superfície da terra é formada por enormes placas de rocha que flutuam sobre material derretido pelo calor (magma). Quando essas placas se roçam é criado o relevo (montanhas altas, vales, etc), que protege a superfície da terra da erosão. E é o relevo que permite o desenvolvimento da diversidade biológica, porque cria ecossistemas separados – por exemplo, sabe-se que a diversidade biológica da floresta amazônica se deve à formação da Cordilheira dos Andes. Esse processo também re-circula o CO2 (com ajuda dos vulcões) o que é fundamental para a vida. Agora, o mesmo roçar das placas tectônicas gera terremotos e tsunamis, com suas terríveis consequências. É uma situação semelhante à da força da gravidade.

E as forças necessárias ao funcionamento do mundo não podem ser “ligadas e desligadas” quando for conveniente. Até porque é preciso haver previsibilidade no funcionamento do mundo – imagine como seria acordar de manhã e perguntar, antes de sair de casa: será que a gravidade está “ligada” hoje? As forças vão funcionar sempre, tantos nos momentos em que são necessárias, como quando geram sofrimento humano e não há como evitar isso.

O que fica claro dessa discussão é não ser justo considerar Deus mau por causa desse tipo de situação. Na primeira parte do estudo, eu lembrei que a onipotência de Deus significa que Ele pode fazer tudo que é lógico. Não pode fazer o que é ilógico, por exemplo, se suicidar.

Em conclusão, Deus não pode criar um mundo previsível, onde as forças necessárias estejam em funcionamento e , ao mesmo tempo, impedir que as consequências dessa realidade se façam presentes. Isso não seria lógico.

Desastres naturais continuarão a ocorrer e não há como evitar isso. A única coisa a fazer é alterar as escolhas humanas: construir com mais segurança, manter as pessoas longe dos locais de risco, criar sistemas de alertas para o perigo, etc. Quedas indesejadas podem ser evitadas colocando grades, guarda-corpos e redes de proteção. E assim por diante.

Mas ainda assim haverá sofrimento, não há como evitar isso. Mas não é justo acusar Deus por conta desse tipo de situação.

Há muitos outros temas relacionados com o Problema do Mal que eu ainda poderia discutir, por exemplo, o caso das crianças que nascem com defeitos genéticos. Mas a lista seria interminável. Por isso vou parar por aqui.
Acredito que esse estudo já mostrou como tais questões podem e devem ser tratadas e, mais ainda, que ficar culpando Deus pelo mal existente no mundo é uma abordagem simplista e até arrogante, de quem acha que sabe mais e melhor do que Deus.

Com carinho

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