A crise do coronavírus trouxe para o centro das discussões uma pergunta importante: por que Deus permitiu tudo isso? Essa pergunta merece ser tratada com seriedade para responder as dúvidas que apareceram na mente de muitos cristãos, perplexos com o tamanho dos problemas à sua volta.
Antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer que a doutrina cristã estabelece a soberania total de Deus – nada acontece no universo sem a permissão de Deus. Portanto, não há como deixar de reconhecer que Ele precisa ter dado permissão para o que está acontecendo hoje. Podemos até não gostar dessa conclusão, mas não há como fugir dela.
Ora, se Deus deu permissão para essa crise, Ele deve ter tido boas razões. Então, quais seriam elas? Há quatro linhas de pensamento que têm sido usadas pelos teólogos cristãos para responder essa pergunta. A primeira dentre elas defende que a crise seria uma justa punição de Deus para os inúmeros pecados da humanidade, semelhante ao que Ele fez no caso do Dilúvio (Gênesis capítulo 6, versículos 11 a 22).
A segunda linha de explicação propõe que a crise seria um sinal da aproximação do final do mundo, conforme previsto em vários lugares da Bíblia, como, por exemplo, em Lucas capítulo 21 versículo 11 e Apocalipse capítulo 6, versículos 7 e 8.
O terceira linha de pensamento avalia que tudo não passaria de um ataque demoníaco. Satanás estaria tentando provocar destruição e caos para afastar as pessoas de Deus e obter vantagens para sua causa. O livro de Jó é a referência para essa linha de pensamento.
Finalmente, existe ainda a linha de pensamento que argumenta ser a crise uma consequência direta dos pecados humanos. E isso estaria caracterizado pelas explicações aventadas para a origem do novo vírus – o consumo de animais silvestres, como morcegos, sem cuidados de higiene adequados ou a possibilidade do vírus ter ter escapado de um laboratório biológico. Ora, sabemos que pecados têm consequências (Romanos capítulo 6, versículo 23) e a humanidade estaria simplesmente colhendo os frutos do que fez.
Não há consenso entre os teólogos sobre as razões de Deus e a razão para essa divergência parece-me óbvia: não é possível conhecer com precisão o pensamento de Deus – veja Isaías capítulo 55, versículos 8 e 9:
Porque meus pensamentos não são vossos pensamentos, nem vossos caminhos meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são meus caminhos mais altos do que vossos caminhos e meus pensamentos mais altos do que os vossos.
O profeta Isaías deixa claro não ser possível ter certeza sobre o que vai pela mente de Deus, exceto quando Ele mesmo decide nos revelar o que pensa, como fez no texto da Bíblia. E como não recebemos, pelo que sei, qualquer revelação de Deus sobre suas razões para a crise do coronavírus, tudo que se pode falar a respeito não passa de especulação. Eu, por exemplo, penso que a crise atual seria consequência dos pecados da humanidade, mas essa posição não passa de uma mera opinião minha.
Portanto, a pergunta inicial somente gera especulações e não gera nada de produtivo – ela é a pergunta errada. Devemos nos concentrar em uma questão bem diferente: para que Deus permite uma crise como essa?
Ao buscar uma resposta, não podemos nos esquecer que o mundo passa periodicamente por graves crises. Nos últimos 120 anos (desde o começo do século XX), aconteceram pelo menos sete graves crises: duas guerras mundiais, a gripe espanhola de 1918, a grande depressão a partir de 1929, o crescimento do terrorismo mundial, marcado pela destruição das torres gêmeas em New York, em 2001, a debacle financeira de 2008 e a pandemia do coronavírus. Uma grande crise a cada década e meia aproximadamente.
Penso que Deus usa essas crises terríveis para fazer do “limão uma limonada”. Ele usa o mal que assola o mundo por diferentes razões para gerar coisas positivas, coisas que nos beneficiam.
Não estou minimizando o sofrimento de tanta gente durante essa crise. – sou bem consciente do que está acontecendo e meu coração fica muito triste com essa situação. Mas, acredito que é preciso olhar além da crise para ver Deus agindo, o que ajuda as pessoas a manterem sua esperança. Daí a necessidade de conseguir ver as coisas positivas que Deus está fazendo.
Vou citar aqui apenas três dentre elas. E a primeira delas é o choque de realidade que as pessoas estão experimentando. Ricas ou pobres, poderosas ou vulneráveis, velhas ou novas, as pessoas estão percebendo sua fragilidade e mortalidade. Muitas delas vem deixando de lado sua vaidade, arrogância e auto-suficiência e se voltando para Deus. A constatação de ser tão pequeno diante de forças que não podem ser controladas, vem quebrando as resistências humanas e, não por acaso, tanta gente tem procurado se aproximar de Deus – este site é prova disso.
E como uma relação próxima com Deus é a melhor coisa que pode acontecer com qualquer ser humano, aí está um ponto positivo da crise.
A segunda coisa positiva é a quebra do encantamento que muitas pessoas tem com o mundo. Veja o que está dito em 1 João capítulo 2, versículo 15:
Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
A sociedade humana está cada vez mais rica e poderosa – há uma revolução tecnológica acontecendo, transformando nossa forma de viver. Os recursos de que dispomos são cada vez maiores, como redes sociais abrangentes, acesso a oportunidades quase infinitas de lazer (viagens, música e vídeos), possibilidade de experimentar vidas cada vez mais longas e assim por diante. Por isso mais e mais pessoas se sentem confortáveis neste mundo.
Uma crise como a atual permite que as pessoas enxerguem melhor os problemas do mundo e, especialmente, como ele está imerso no pecado. Nossa perspectiva das coisas muda – por exemplo, está sendo possível perceber ser possível viver sem precisar consumir tanto, sem correr tanto, sem lutar tão desesperadamente por mais e mais coisas e por status. Uma vida mais simples é possível e provavelmente melhor.
A verdade é que as crises forjam o caráter humano – o apóstolo Paulo falou bem sobre isso em Romanos capítulo 5, versículos 3 e 4:
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança.
É no sofrimento e na dificuldade, e não na abundância e na vida boa, que o caráter da pessoa se desenvolve e é depurado. É como a conquista de boa forma física: isso requer perseverança, suor e até dor. Ninguém conquista boa forma no conforto da sua casa e podemos perceber isso com clareza na vida de todos os heróis da fé descritos em Hebreus capítulo 11. Todas essas pessoas passaram por lutas, sofrimento e provas de firmeza de caráter.
A terceira coisa positiva que decorre das situações de crise é a emergência da solidariedade humana. Pessoas as mais diversas, incomodadas pelo Espírito Santo, e motivadas pelo sofrimento que vêem à sua volta, saem do seu conforto e começam a praticar boas obras. Aprendem a exercer plenamente o amor ao próximo. E assim se multiplicam gestos lindos, ou seja, o bem se também se espalha. E estamos vendo isso acontecer todos os dias, em inúmeros lugares, tanto no Brasil, como no exterior.
Concluindo, Deus é capaz de fazer do “limão uma limonada”. Ele consegue usar crises para gerar muitas coisas positivas, trazendo pessoas para Ele, forjando uma sociedade melhor e espalhando o amor ao próximo. Tudo isso nos faz ter certeza que o mal nunca vencerá pois Deus está no controle de tudo. E glórias a Ele por isso.
PS Veja mais sobre a crise do coronavírus aqui.