Um dos ensinamentos mais conhecido no meio evangélico é que não existe tamanho para pecados, ou seja não há “pecadilhos” e “pecadões”. E mais, qualquer pecado tem potencial para gerar condenação por parte de Deus.
Por outro lado, a doutrina da igreja católica defende a gradação dos pecados, classificados como mortais (os que trazem condenação) e veniais (demais erros). E decorre desse entendimento a gradação das punições estabelecidas pelos padres, para purificar os(as) fiéis dos pecados cometidos, quando tais erros são admitidos em confissão.
Quem tem razão? Será que há mesmo gradação dos pecados? Existem pecadilhos e pecadões? À primeira vista parece que sim, afinal há até um pecado sem perdão, a ofensa contra o Espírito Santo. Além disso, o próprio Jesus parece ter graduado pecados na condenação que fez à população de duas cidades (Corazim e Betsaida), conforme Mateus capítulo 11, versículos 21 e 22:
Ai de ti, Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas teriam se arrependido com pano de saco e cinza. E contudo vos digo: No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros.
Se olharmos mais de perto essas evidências bíblicas, veremos que não é bem esse o ensinamento transmitido. O pecado contra o Espírito Santo – a rejeição total da sua ação na vida da pessoa – torna o perdão de Deus impossível, pois impede que essa mesma pessoa venha a aceitar Jesus como Salvador. Ou seja, não é que a natureza desse pecado específico seja pior e sim que ela impede o acesso da pessoa à Graça de Deus.
Já na declaração de Jesus sobre a população das cidades de Corazim e Betsaida, é preciso lembrar foi ali onde Jesus morou durante boa parte do seu ministério. Portanto, os(as) moradores(as) daquelas duas cidades tiveram acesso privilegiado a Ele. Receberam muito mais. Assim, sua eventual rejeição de Jesus tornou-se mais séria pois a quem mais se dá, mais se cobra. É disso que Jesus falou e não do fato dos(as) moradores(as) daquelas cidades terem cometidos pecados maiores.
O apóstolo Pedro, na sua segunda carta, capítulo 2, versículo 21, repete, com outras palavras, o mesmo ensinamento de Jesus:
Pois, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado.
As pessoas que têm acesso ao Evangelho de Jesus e rejeitam tal ensinamento, acabam em estado espiritual ainda pior que antes, pois deixam de ter a desculpa da ignorância para justificar seus erros.
Não é a natureza do pecado em si que determina a seriedade maior ou menor do que foi feito aos olhos de Deus, mas o grau de esclarecimento da pessoa. Tiago, o irmão de Jesus, na sua carta (capítulo 4, versículo 17), afirmou:
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.
É o conhecimento de estar errando que torna o pecado mais sério aos olhos de Deus – a pessoa sabe com clareza o que está fazendo e escolheu deliberadamente pecar.
Agora, não é possível deixar de reconhecer que as consequências de cada pecado são diferentes, algumas são maiores e outras menores. Roubar um pão normalmente gera consequências menos importantes do que matar uma pessoa a sangue frio – é possível devolver o pão roubado e pagar o prejuízo causado, mas não é possível reviver a pessoa morta.
Acredito que o erro de pensar existirem pecados maiores e menores decorre exatamente da percepção de que as consequências do que foi feito varia muito. E as pessoas acabam confundindo a gravidade das consequências por elas percebidas com a importância do pecado em si – pecados cujas consequências parecem maiores são tidos como mais sérios aos olhos de Deus.
Acontece que a lógica humana não é a lógica de Deus. Portanto, não é assim que Ele avalia as coisas que fazemos. Até porque pecados cujas consequências imediatas e mais evidentes parecem ser pequenas podem trazer efeitos negativos de longo prazo bem maiores e isso as pessoas não conseguem perceber logo.
Por exemplo, uma lei iníqua pode parecer beneficiar as pessoas a curto prazo, mas ter consequências terríveis a longo prazo. Nessa linha, que o governo resolva multiplicar por três as pensões dos(as) aposentados(as) e a longo prazo o INSS quebre, por não ter dinheiro para pagar os novos compromissos. No começo, muita gente ficaria feliz, mas as consequências posteriores seriam catastróficas.
O mesmo se dá com as consequências do pecado. Elas podem parecer bem pequenas de início, mas crescer muito a longo prazo. As pessoas não conseguem perceber isso, mas Deus não se deixa enganar.
Todo pecado é sério para Deus pois entra em choque com sua Santidade e afasta o ser humano d´Ele. Esse é o ensinamento da Bíblia. Nem mais e nem menos.
Com carinho