OS NOSSOS HÁBITOS

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Há um livro muito interessante chamado “O poder do Hábito”, escrito por Charles Duhigg, sobre a ciência da formação de hábitos, que é aplicável tanto às pessoas, como às organizações e à sociedade em geral. 

A verdade é que o ser humano é um “animal” de hábitos e isso foi confirmado por inúmeros estudos. Todo mundo têm hábitos, sendo que em algumas pessoas isso fica mais evidente, especialmente quando elas chegam à velhice.

Nos últimos anos de sua vida, meu pai sempre almoçava no mesmo restaurante, no centro do Rio de Janeiro. Sentava-se à mesma mesa, sempre por volta de 12:30 hs e comia a mesma coisa. Os hábitos passaram a dominar o comportamento do meu pai no final da sua vida. 

A ciência do marketing há muito tempo entendeu essa tendência humana e tem usado tal conhecimento para gerar bons lucros para as empresas. Um exemplo clássico é o de Claude Hopkins, publicitário que foi fundamental para criar o hábito de escovar os dentes todos os dias no povo norte-americano.

Por mais de uma década, sob orientação de Claude, o fabricante da pasta de dentes Pepsodent conduziu uma extensa campanha de publicidade, estrelada por artistas de cinema famosos, que davam seu testemunho sobre as vantagens de escovar os dentes (ter um sorriso bonito e um hálito agradável).

Ao longo dessa década, mais da metade da população norte-americana adquiriu um hábito (escovar os dentes) que não tinha – somente bem depois vieram as pesquisas científicas comprovando a vantagem dessa prática para manter a saúde dos dentes.  

Os estudos mais recentes sobre a formação de hábitos são neurológicos e procuram entender os processos mentais por trás da formação deles, permitindo desenvolver técnicas que permitem alterar hábitos já constituídos ou mesmo substituí-los por outros. 

Anatomia dos hábitos
Os estudos mostram que há três componentes na formação de um hábito qualquer: gatilho, recompensa e sinal. O gatilho é aquilo que aciona o comportamento habitual. Por exemplo, os fumantes sempre relatam que beber café traz vontade de fumar, portanto, o cafezinho é um gatilho para o fumo.

No caso do hábito de escovar dentes, o gatilho é o mau hálito – quando a pessoa sente um gosto ruim na boca, sabe que está na hora de escovar os dentes, pois isso vai refrescar seu hálito. 

A recompensa, na formação de um hábito, é o benefício que ele traz para a pessoa. No caso do cigarro, a recompensa é o prazer que o viciado sente quando a nicotina chega ao seu cérebro. Já no caso da pasta de dentes, há duas recompensas: o sorriso mais bonito e o hálito mais fresco. 

O sinal comprova que a recompensa foi alcançada. Por exemplo, quando se escova os dentes, a pasta costuma deixar um leve ardor na boca, que demonstra a ação da pasta. Repare, esse ardor não tem nada a ver com a qualidade da pasta, mas é importante para sinalizar que o produto funcionou bem – estudos mostraram que as pessoas avaliam melhor as pastas de dente que tem esse ardor. 

Os hábitos cristãos
Nós, cristãos(ãs), temos, além dos hábitos da vida corriqueira, hábitos especificamente espirituais. E esse outro tipo de hábito também segue a mesma anatomia dos demais, tendo seus respectivos gatilho, recompensa e sinal. Em outras palavras, a ciência que estuda os hábitos certamente contribui para entendermos melhor nosso comportamento no campo espiritual.

Deus conhece bem como somos, pois foi Ele quem nos criou. Assim, não é por acaso que Ele sempre incentivou a formação de hábitos espirituais pelas pessoas. Sabia que esses hábitos ajudariam as pessoas a crescer na fé.

Poderia citar muitos exemplos aqui, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Um deles é o hábito dos judeus de fazer orações diárias. Elas lembravam às pessoas quem eram e a importância da sua relação com Deus.

O hábito de fazer sacrifícios apontava para os pecados das pessoas e a necessidade de purificá-los. As festas religiosos (Páscoa, Dia do Perdão, etc) criaram o hábito de comemorar momentos importantes da história de Israel (como a saída do povo da escravidão no Egito), mantendo viva a memória do que Deus tinha feito na vida deles. 

No Novo Testamento, vemos Jesus também incentivando a formação de hábitos espirituais. O melhor exemplo é o hábito de tomar periodicamente a comunhão (pão e vinho), também conhecida como Santa Ceia. Tal cerimonial tem por objetivo fazer com que o povo cristão nunca se esqueça do sacrifício de Jesus na cruz. 

Vamos usar a anatomia dos hábitos, que expliquei acima, para analisar a comunhão. O gatilho para esse hábito é conscientização das pessoas que pecaram – essa é a razão porque a liturgia do culto cristão sempre tem uma parte que incentiva as pessoas a se autoanalisarem, tomarem consciência dos próprios pecados, arrepender-se deles e buscar o perdão de Deus.

recompensa para o hábito de tomar a Santa Ceia é a paz de espírito e o alívio que as pessoas sentem ao final dessa cerimônia, ao se sentir perdoadas. Reconciliadas com Deus.

Finalmente, o sinal de que a recompensa está sendo alcançada é o ato de comer o pão e beber vinho. E é exatamente por isso que a Santa Ceia não é uma cerimônia puramente simbólica, envolvendo um ato físico de comer elementos (pão e vinho).

Quando as pessoas sentem o gosto desses elementos, seus cérebros recebem a mensagem de que elas estão participando da Santa Ceia e alcançando a Graça de Deus. 

Jesus instituiu outras práticas que visavam criar outros hábitos espirituais para o povo cristão. Por exemplo, Ele nos ensinou a orar através da oração do “Pai Nosso”. Essa fórmula pronta facilita o hábito de orar, especialmente para quem está começando nesse caminho. Jesus incentivou também a formação de hábitos como a meditação e o jejum. 

A teologia apelidou o conjunto de hábitos que todo(a) cristão(ã) deveria ter de “disciplinas espirituais”: oração, louvor, comunhão, meditação, estudo da Palavra, etc. E todos são extremamente importantes para a vida espiritual das pessoas. 

Neste site eu tenho postagens sobre cada uma dessas disciplinas e também há vídeos do Rogers e da Alicia sobre o mesmo tema. Vale a pena conferir. 

Com carinho

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