“Para que não me ensoberbecesse com a grandeza das realizações, foi-me colocado um espinho na carne, Mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disso, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então Ele me disse: a minha Graça te basta…” 2 Coríntios capítulo 12 versículos 7 a 10
O “espinho na carne” que Deus deu a Paulo sempre gerou muitas dúvidas, tanto em relação à causa do sofrimento do apóstolo, como também quanto à necessidade dele passar por esse tipo de tormento.
Inúmeras teorias foram propostas, a maioria delas concluindo que o tal “espinho” foi uma doença – malária, epilepsia, problema nos olhos, etc. Alguns estudiosos(as) falam de problemas emocionais e há quem tenha chegado a especular sobre um problema de natureza sexual.
Essas explicações nunca me convenceram muito. Sempre pensei que essas teorias não se casam bem com aquilo que o apóstolo descreveu, a o falar do seu ministério. Afinal, Paulo foi homem de grande coragem pessoal, que passou sem pestanejar por naufrágios, prisões e fome (2 Coríntios capítulo 11, versículos 16 a 33). E nunca se impressionou com dificuldades terríveis, como fez com o tal “espinho”.
Penso que um problema que teve impacto tão significativo na vida de Paulo precisaria estar diretamente relacionado com aquilo que ele mais prezava: seu ministério de evangelização e pastoreio de igrejas.
Até que li um estudo, publicado na revista “Bible Review” que finalmente me convenceu, já que sua conclusão vai exatamente na direção que entendo ser a certa: buscar a resposta do enigma no ministério de Paulo. E é essa explicação que vou dividir com vocês nesta postagem.
E começo lembrando que Paulo fez, nos capítulos 11 e 12 de 2 Coríntios, uma ampla discussão sobre suas fraquezas. No início do capítulo 11 ele falou dos “falsos profetas” – os líderes religiosos que desviavam os cristãos do caminho certo e eram verdadeiros enviados de Satanás (versículos 13 a 15).
Ora, há precedentes no texto bíblico chamar pessoas inimigas do povo de Deus de “espinhos” que incomodam – veja, por exemplo, Números capítulo 33, versículo 55. Portanto, parece ser natural buscar entre os “falsos profetas” o “espinho” na carne de Paulo.
E essa explicação encontra também suporte na constatação que, logo após falar que seu “espinho na carne” era um mensageiro de Satanás (ver texto acima), Paulo voltou a citar os “falsos profetas” (capítulo 12, versículos 11 e 12), deixando claro que uma coisa estava ligada à outra.
Será que Paulo sofreu mesmo algum tipo de perseguição desse tipo? Sim. E os relatos da Bíblia registram que, quando ele tentava plantar uma nova igreja cristã, durante suas viagens missionárias, sempre enfrentava oposição de um grupo de pessoas que procurava desacreditar seu trabalho. Há inúmeras referencias a esse tipo de situação, como, por exemplo, em Atos dos Apóstolos capítulo 13, versículos 50 a 52; capítulo 14, versículos 2 a 6 e 19 a 22; e capítulo 17, versículos 5 a 9.
Ora, uma oposição tão constante não aconteceu por acaso. Ela foi obra de um grupo de pessoas que detestava o ministério de Paulo e se organizou para atrapalhar seus passos (Gálatas capítulo 1 versículo 7; capítulo 5, versículo 12).
Esse grupo deve ter tido um líder forte e, provavelmente, é a essa pessoa que Paulo se referiu como seu “espinho” na carne. Esse homem tentava continuamente atrapalhar o ministério do apóstolo e lhe causava enorme incômodo.
Por três vezes, Paulo pediu que Deus removesse esse homem, fonte de tanto tormento, frustração e embaraço, do seu caminho. Mas, Deus respondeu que não ia fazer isso e sua Graça seria suficiente – já perto do final da sua vida, Paulo reconheceu que Deus sempre o apoiou (2 Timóteo capítulo 3, versículos 10 e 11).
Quem perseguia Paulo? O próprio apóstolo falou sobre isso, em 2 Corintios capítulo 11, versículos 19 a 23: eram judeus (hebreus), convertidos ao cristianismo na Jerusalém, mas provavelmente não obedientes à orientação de Tiago, irmão de Jesus, líder daquela igreja.
A razão para o ódio desses homens contra Paulo é simples: viam-no como um herege, pois o apóstolo defendia que as pessoas não precisavam seguir os mandamentos da lei Mosaica – por exemplo, circuncisão dos homens ou se privar de comer certos alimentos – para poder seguir o cristianismo. Para Paulo, basta a fé em Jesus para fazer da pessoa um(a) cristão(ã), posição que acabou prevalecendo na igreja cristã.
O que aconteceu com Paulo não é incomum no meio cristão – já aconteceu com muita gente boa, como Lutero, Wesley e Martin Luther King. E vai continuar a acontecer.
É comum que pessoas cristãs cometam o erro de atrapalhar o trabalho dos enviados por Deus. E quem atrapalha a Obra de Deus, mesmo que com a melhor das intenções, torna-se instrumento de Satanás – foi isso que aconteceu com os amigos de Jó.
Pessoas bem intencionadas, mas divorciadas da vontade de Deus, acabam cometendo erros terríveis. E foi assim que aconteceram a Santa Inquisição, a conversão de judeus à força na Espanha e em Portugal, a caça a mulheres apontadas como bruxas, nos Estados Unidos e tantos outros episódios que envergonham o cristianismo. E é o mesmo fenômeno que explica o “espinho” na carne que tanto incomodou o apóstolo Paulo.
Com carinho