O apóstolo Paulo é visto por muita gente como machista. E suas cartas, infelizmente, tem sido usadas para oprimir as mulheres dentro das igrejas.
Eu já argumentei neste site que Paulo não era machista e que esse tipo de conclusão nasce de uma leitura preconceituosa do que ele escreveu (veja mais). Hoje eu quero ir mais adiante: vou mostrar que, na verdade, Paulo procurou empoderar as mulheres. E alcançou muito sucesso nesse esforço.
Empoderamento, segundo o dicionário, é o ato de dar ou conceder poder para alguém. E foi exatamente isso que Paulo fez: usou sua autoridade apostólica para dar poder às mulheres e elas responderam de forma admirável.
Para você entender o que aconteceu, precisa ter como ponto de partida, a noção que a sociedade onde Paulo viveu era estruturada sobre a cultura grega e romana. E naquela cultura, as virtudes eram atributos masculinos, quase nunca sendo atribuídas às mulheres.
Por exemplo, as mulheres nunca eram chamadas para serem fortes – isso era coisa exclusivamente para homens. Aí Paulo vem e diz o seguinte:
E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria… Colossenses capítulo 1, versículos 10 e 11
Em outras palavras, homens e mulheres, indistintamente, devem ter a força e o poder que emana de Deus. Para aquela época, esse tipo de declaração foi surpreendente.
Paulo também disse que todos os cristãos deveriam ser corajosos e fortes, novamente atributos exclusivamente masculinos. Veja o que ele disse:
Estejam alertas, fiquem firmes na fé, sejam corajosos, sejam fortes 1 Corintios capítulo 16, versículo 13
E tanto isso é verdade que algumas traduções mais antigas da Bíblia escrevem nessa passagem que todos os cristãos – homens e mulheres – devem se comportar de forma “varonil”, ou seja como varões de verdade, já que coragem, firmeza e força cabia m exclusivamente aos homens.
Paulo também usou metáforas baseadas em atividades exclusivamente masculinas para descrever como todos os cristãos devem se comportar. Por exemplo, exortou-os a vestir uma armadura protetora para enfrentar “batalhas espirituais”:
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Efésios capítulo 6, versículos 11 a 13
Da mesma forma em 1 Coríntios (capítulo 9, versículos 24 a 27) Paulo usou a metáfora do atletismo – atividade somente exercida por atletas masculinos – convocando todos os cristãos a correrem a carreira da fé e colher o prêmio final dos seus esforços (conforme Filipenses capítulo 3, versículos 13 a 15).
A aplicação desse tipo de metáfora às mulheres foi inédito – ninguém além de Paulo fez isso. E esse chamado para que assumissem virtudes e comportamentos exclusivos dos homens, empoderou, dando a elas o direito de se sentirem valorosas.
E tal empoderamento sem dúvida deu resultados expressivos: muitas mulheres (p. ex. Dorcas, Lídia, Priscila, Febe e Junia) assumiram papéis de destaque no início da vida da igreja cristã, pregando a palavra, ensinando, fundando igrejas, cuidando dos pobres e assim por diante.
Além disso, nas descrições dos martírios sofridos por cristãos, como fruto da perseguição romana, diversas mulheres tiveram papel de grande destaque, o que foi grande surpresa. Esse é o caso da jovem escrava Blandina, pequena e aparente frágil, que suportou torturas que fizeram empalidecer soldados veteranos. Ou de Perpétua, jovem mãe, que se recusou a sacrificar ao Imperador romano (como se ele fosse deus), não cedeu nem às fortes pressões do próprio pai, acabando por martirizada em meio a tormentos terríveis.
Essas mulheres assumiram papéis que antes eram exclusivos dos homens, inaugurando assim uma nova forma de ordem social dentro da comunidade cristã. Ali, as mulheres passaram a ter um peso maior nos acontecimentos do que era o caso na sociedade secular.
E a origem de tudo isso foi a pregação inspirada de Paulo que empoderou as mulheres. Graças a Deus pela vida do apóstolo.
Com carinho