O sétimo dentre os famosos Dez Mandamento diz simplesmente o seguinte: “não adulterarás” (Êxodo capítulo 20, versículo 14). E a definição de adultério é manter relações sexuais ilícitas, que violem as regras estabelecidas pela sociedade.
Isso parece ser relativamente simples de entender e cumprir. Mas na prática não é bem assim. Afinal, há grandes diferenças de entendimento entre as pessoas quanto ao significado do casamento e de outros tipos de relações estáveis entre homens e mulheres desde o tempo bíblico até os dias de hoje.
O adultério na época da Bíblia
Israel era uma sociedade patriarcal, dominada pelos homens, onde a poligamia (um homem ter várias esposas) era admitida. E havia uma razão prática para isso, além do machismo: os homens morriam cedo por causa das doenças e das guerras e era necessário garantir a continuidade das linhagens. E isso era mais fácil se um homem pudesse ter várias mulheres. E a única condição estabelecida para a pluralidade de esposas era que o homem tivesse condições financeiras de sustentar todas (incluindo seus filhos) adequadamente.
Acho que já deu para você perceber que, num ambiente assim, o conceito de adultério necessariamente teria que ser um pouco diferente daquele que usamos hoje. Naquela época, portanto, adultério era o sexo que um homem qualquer (israelita ou não) viesse a fazer com a mulher legalizada (isto é, a esposa ou a concubina) de um homem israelita. Portanto, um homem israelita já casado poderia ter sexo com todas as mulheres que desejasse, e pudesse, desde que essas mulheres não fossem legalmente vinculadas a outro homem israelita.
E o adultério, definido dessa forma, não era um crime apenas contra o homem a quem pertencia a mulher adúltera, mas um crime contra todo o povo israelita, pois esse erro colocava em risco a pureza das linhagens de sangue – Israel era o povo da promessa e o direito a fazer parte dela era herdado (vinha pelo sangue), daí a preocupação em manter as linhagens puras.
Concluindo, o mandamento sobre o adultério foi estabelecido para garantir a estabilidade da sociedade israelita e controlar o acesso à promessa que Deus tinha feito à Abraão (participavam dela os filhos de sangue, legítimos, dos homens judeus).
O adultério hoje em dia
Nossa sociedade é organizada de forma diferente. As mulheres não são mais propriedade do marido e os núcleos familiares são monogâmicos (um único homem e uma única mulher), embora uma mesma pessoa possa participar de diferentes núcleos ao longo do tempo, desde que não seja ao mesmo tempo. Em outras palavras, um homem deve se relacionar sempre com uma única mulher, embora possa ter mais de uma mulher ao longo da vida, caso venha, por exemplo, a casar-se, divorciar-se e casar-se de novo. E o mesmo vale para as mulheres.
E também não há muita preocupação em garantir a pureza da linhagem, como havia entre o povo de Israel.
Ora, num ambiente como esse, como fica o adultério? Para responder à pergunta, é preciso lembrar qual é a base da sociedade atual: a família, estabelecida a partir de uma relação monogâmica. Portanto, é isso que precisa ser preservado.
Outro princípio muito importante que temos hoje em dia e que não havia nos tempos bíblicos, é o da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Aliás essa igualdade é um conceito encontrado na Bíblia, embora não fosse seguido naquela época. Afinal, homens e mulheres têm o mesmo valor aos olhos de Deus. E foi o cristianismo que levou a bandeira dessa igualdade adiante, tanto é assim que ela se faz presente nos países ocidentais, cujos valores são tradicionalmente cristãos, e não nos países muçulmanos ou de outras religiões.
Sendo assim, aquilo que se aplica aos homens – direitos e deveres – também se aplica às mulheres. Não pode haver diferença entre eles e elas.
Deve, então, ser considerado adultério todo sexo realizado, pelo homem ou pela mulher, fora da relação monogâmica que eles estabeleceram consensualmente, como é o caso do casamento, embora não se limite a essa situação.
E essa definição já responde imediatamente a outra questão: como ficam as relações estáveis mas não oficializadas por casamento, coisa muito comum no Brasil? Quando um homem e uma mulher estabelecem consensualmente um núcleo familiar, mesmo não sendo casados, o mandamento do adultério também passa automaticamente a se aplicar a eles.
É importante perceber que não estou defendendo relações informais e deixando de dar importância ao casamento, mas apenas reconhecendo que há no Brasil muitas uniões estáveis sem casamento e não posso fechar os olhos para essa realidade.
Antes de concluir, preciso ainda lembrar que Jesus colocou uma “pimenta” na questão do adultério. Ele ensinou que a fidelidade apenas física não é o bastante. Também constituem violação do mandamento do adultério os pensamentos adúlteros, mesmo que não venham ser (Mateus capítulo 5, versículos 27 e 28). Portanto, Jesus foi muito mais abrangente na exigência que fez.
Com carinho
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