Frequento classes de escola dominical há mais de 50 anos e as aulas hoje em dia continuam a ser conduzidas exatamente como era feito a meio século atrás. Parece que as igrejas recusam a modernização. Não sabem que vídeo-games, tablets, celulares inteligentes e outras maravilhas da tecnologia moderna existem e podem ser muito úteis no ensino da Bíblia, o que é uma pena. Aliás, esse é um problema comum na vida das igrejas cristãs: a dificuldade em acompanhar a modernização das sociedades onde estão inseridas.
É claro que dá para continuar a ensinar o evangelho de Jesus Cristo da forma tradicional, mas, sem dúvida, fica muito mais difícil atrair a atenção de uma geração que cresceu acostumada à mídia áudio visual.
E há um outro campo de ação onde a resistência à modernização é ainda mais grave: refiro-me ao campo das ideias. Basta lembrar, por exemplo, o que vem acontecendo com a igreja Católica, que perde membros na maior parte dos países por conta de sua ideologia antiquada, problema que foi recentemente reconhecido pelo próprio Papa Francisco. Vejamos alguns exemplos disso: excessiva centralização do poder, levando quase à paralisia da organização; tratamento dado ao líder máximo equivalente quase ao de um semideus, impedindo que os erros papais sejam apontados e questionados; e alienação das mulheres das posições de liderança, desperdiçando uma enorme quantidade de talento.
A falta de modernidade não é privilégio dos católicos, podendo ser encontrada também na maioria das denominações evangélicas. Um bom exemplo está relacionado com os ensinamentos sobre a família. Na esmagadora maioria das igrejas cristãs, quase todas as atividades e ensino são voltados essencialmente para o modelo familiar normal: um núcleo formado pelo pai (provedor), pela mãe (cuidadora) e pelos filhos e filhas do casal. E não há nada de errado com esse modelo familiar, mas ele representa apenas uma parte da sociedade brasileira, que se tornou bem mais complexa. Segundo os últimos dados estatísticos de que disponho, apenas 51% das famílias se enquadram no padrão tradicional. O restante conta com um único cabeça (pai ou mãe ou avó) e/ou mantém filhos oriundos de diferentes casamentos convivendo sob o mesmo teto.
Ora, se quase todos os esforços das igrejas são dirigidos para um tipo de família que representa apenas metade do espectro social, isso quer dizer que a outra metade fica desatendida. Quase nada é feito para atender as suas questões específicas – por exemplo, como é para filhos de pais diferentes conviverem entre si?
Outros exemplos de idéias antiquadas são a proibição do uso de métodos anticoncepcionais, a teimosa defesa da tese que a mulher deve ser submissa ao marido (fruto de uma leitura distorcida dos ensinamentos de Paulo), ou ainda a demonização do divórcio, com frequência tornado equivalente ao adultério.
Ideias antiquadas causam o afastamento das pessoas das pessoas das igrejas, especialmente daquelas com maior capacidade de pensamento crítico E aí as igrejas vão aos poucos se tornando irrelevantes, deixando de impactar a sociedade onde estão inseridas.
A dificuldade para a modernização nasce no medo que muitas pessoas têm de mudar. E de serem rejeitadas por Deus por conta disso. Aí preferem se manter onde estão, seguindo as mesmas idéias e práticas por medida de segurança.
Não tenha medo de aceitar idéias que lhe pareçam novas, de sair da sua zona de conforto. Essa é uma necessidade real da vida. Afinal, aquilo que não muda, acaba por perder a vitalidade.