Há um filme onde a personagem principal, uma mãe de dois filhos, precisa escolher qual deles vai salvar de um campo de concentração nazista. Era uma escolha terrível, mas que precisasse ser feita, pois, se a mãe nada escolhesse, os dois filhos morreriam. Não havia como fugir dessa escolha – era imperativo salvar pelo menos um dos filhos. E a mãe escolheu.
Uns sete anos atrás, uma escolha muito difícil teve que ser feita pelo governo de Israel. Tratou-se da troca de um soldado israelense, feito refém pelo Hamas, por 1.020 prisioneiros palestinos, vários dos quais condenados por operações terroristas.
O governo de Israel precisou ponderar, por um lado, o dever do Estado de zelar pela vida dos seus cidadãos/ãs, mais ainda de quem é enviado/a para a frente de batalha (o caso do soldado), e, por outro lado, a necessidade de fazer justiça, mantendo presos os terroristas.
Situações como essas são conhecidas como “dilemas éticos”. Trata-se de escolhas muito difíceis de fazer pois as duas alternativas parecem estar certas sob o ponto de vista ético. Há argumentos importantes para escolher qualquer das alternativas, mas é imperativo escolher entre elas.
O governo israelense escolheu salvar a vida do soldado. No filme, a mãe escolheu salvar a criança que tinha mais chance de sobreviver. Mas essas escolhas são passíveis de críticas, pois o critério usado acaba sendo considerado injusto por algumas pessoas, que se guiam por princípios difrerentes.
Por exemplo, no caso da troca do soldado pelos terroristas, alguns familiares (não todos) das vítimas dos terroristas libertados se mostraram horrorizados com a libertação dos criminosos. No caso do filme, há quem acha que a mãe deveria ter tirado sortes e deixado a escolha nas mãos de Deus. E assim por diante.
O fato é que volta em meia tropeçamos em dilemas éticos. Por exemplo, quando o governo está estudando o orçamento e não há dinheiro para tudo que se deseja fazer, deve-se privilegiar a saúde, a educação, os transportes urbanos ou a moradia popular? Todas essas quatro áreas são são importantes pois afetam as vidas de milhões de pessoas. O que escolher?
Outro exemplo: há um acidente e dezenas de feridos/as são levadas para o hospital mais próximo, que não tem recursos para salvar a vida de todo mundo. Quem os/as médicos devem salvar?
Outro exemplo ainda (e esse já aconteceu comigo): uma igreja distribui cestas básicas mensalmente e aparecem na hora da distribuição mais pessoas carentes do que o número de cestas disponíveis. Todas as pessoas que pedem cestas precisam dos alimentos para matar a fome da sua família, mas não há comida para todo mundo. Quem deve ser escolhido para receber as cestas disponíveis?