DEUS DEVERIA FAZER MAIS MILAGRES?

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Deus pode fazer milagres como e quando desejar pois é onipotente. Por que então Ele não atua com mais frequência, especialmente para evitar que pessoas inocentes sofram? Será que essa atuação meio “contida” significa que Deus não se importa conosco tanto quanto deveria?

Essas são perguntas interessantes e que merecem respostas, o quanto possível, detalhadas. Até porque a falta dessas respostas costuma incomodar muito os(as) cristãos(ãs). 

1) A necessidade do aprendizado 
Imagine um mundo onde Deus interviesse sempre para evitar que as pessoas sofressem. Você poderia pular de certa altura e tanto sair voando como cair, dependendo da vontade de Deus naquele momento. Um avião não conseguiria levantar voo, prevenindo um desastre futuro. Um remédio que iria fazer mal para uma criança “desapareceria” misteriosamente da sua embalagem. E assim por diante.

É interessante perceber que, em tal tipo de mundo, as pessoas poderiam fazer escolhas erradas e mesmo assim os resultados finais seriam bons por causa da intervenção de Deus. Em consequência não haveria aprendizado, pois isso costuma se dar por tentativa e erro – como as escolhas sempre levariam a bons resultados, as pessoas nunca iriam perceber onde e quando tinham errado para evitar erros futuros.  E como não haveria aprendizado, também não seria acumulado conhecimento e o desenvolvimento social e científico iria ser paralisado.

Além disso, o funcionamento do mundo seria totalmente imprevisível. Por exemplo, a força da gravidade iria operar – e apessoa cair – se Deus não interviesse. As pessoas nunca saberiam quais forças da natureza estariam operando em determinado momento, pois tudo dependeria da possível intervenção de Deus.

Mas como uma sociedade organizada pode funcionar sem haver previsibilidade, com leis físicas que nunca se sabe se estão operacionais ou não?

Em outras palavras, a intervenção constante de Deus pode parecer uma coisa desejável mas teria efeitos muito negativos: deixaria de haver acumulação do conhecimento e desenvolvimento social e científico, bem como o funcionamento do mundo tornar-se-ia totalmente imprevisível.

Haveria ainda um outro efeito indesejado: como Deus poderia responsabilizar as pessoas pelos seus próprios erros (pecados)? Afinal, se alguém faz uma escolha errada e o resultado final é bom, como essa pessoa pode ser considerada culpada? Em outras palavras, seria preciso que Deus passasse a punir apenas as intenções das pessoas e não mais os resultados reais das suas ações e isso certamente iria parecer muito injusto.

Tudo isso demonstra que há limites para o quanto Deus deve intervir no Deus no mundo, para evitar desorganizar totalmente o seu funcionamento. Milagres precisam ser, pela sua própria natureza, limitados.

2) A responsabilidade pelo mal não é de Deus
Em dois posts anteriores mostrei que a existência do mal se deve primordialmente às escolhas erradas (pecados) dos seres humanos (veja mais). Discuti também como as forças naturais, necessárias para o funcionamento do mundo, podem ter consequências negativas (veja mais). Acho que nesse estudo consegui mostrar que, diferentemente do que muitos pensam, Deus não é responsável pelo mal que existe no mundo. Não pode ser culpado pelos problemas que existem por aí.

Ora, se a culpa não é d´Ele, é justo responsabilizá-lo por não intervir para corrigir o que está errado? Responsabilizar Deus por algo que Ele não tem culpa parece estranho, mas é exatamente assim que muitas pessoas pensam e até se voltam contra Ele por causa disso.

Mas esse comportamento não é novidade – em Provérbios capítulo 19, versículo 3, a Bíblia diz: “A incompetência do homem lhe traz ruína, mas é contra o SENHOR que seu coração se ira“.

Resumindo, Deus não tem qualquer obrigação de intervir e não pode ser criticado quando não o faz. A realidade é a oposta: ao invés de ficar culpando Deus pelo que não faz, devemos sim é ser gratos quando Ele decide agir a nosso favor, sem ter qualquer obrigação quanto a isso.

3) Quanto e onde intervir?
Imagine por um minuto que as críticas estejam certas e Deus fosse convencido a intervir mais. Mas quem iria definir qual a frequência correta para a intervenção divina? Os líderes políticos? Os líderes religiosos? As próprias pessoas afetadas?

É fácil demonstrar que qualquer dessas alternativas levaria a resultados ruins, pois os seres humanos são imperfeitos e na maior parte das vezes não escolhem aquilo que é melhor para si mesmos – basta pensar na poluição, na violência e na miséria humanas, tudo isso fruto de milhares de decisões erradas tomadas ao longo da história, muitas vezes por pessoas até bem intencionadas. Deus é muito mais sábio do que todos nós e, portanto, Ele sabe melhor quando, onde e como deve agir. 

4) Deus intervém e não é percebido
Também ocorre que Deus intervém a favor das pessoas sem que isso seja percebido, pelo menos de início. Muitas vezes sua intervenção somente vem a ser entendida muito tempo depois.

Por exemplo, José, filho de Jacó, foi vendido por seus irmãos, por ciúme, como escravo. Acabou no Egito e muitos anos depois tornou-se o segundo homem mais poderoso daquele país. Por conta disso, acabou podendo abrigar sua família e salvá-la de grande fome que aconteceu na Palestina (lugar onde originalmente a família de Jacó morava). A Bíblia conta que José foi capaz de reconhecer isso no final da sua vida (Gênesis capítulo 50, versículos 18 a 21) 

Palavras finais
Toda vez que Deus é criticado pelos problemas do mundo, bem lá no fundo existe um sentimento, por parte dos críticos, que sabem mais e melhor do que Ele. Ora, foi Deus quem criou tudo e sustenta a existência do universo com seu poder. Por que alguém saberia melhor o que deve ser feito do que Ele mesmo? Pensar assim é pura arrogância.

Concluo, lembrando a resposta que Deus deu para Jó (capítulo 38, versículo 4), quando foi questionado por aquele homem quanto ao sofrimento pelo qual estava passando: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-me se tens entendimento“.

Com carinho

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