“Você não pode fazer isso porque é pecado“. “Você vai para o inferno se fizer aquilo“.
Frases assim são ouvidas com frequência em muitas igrejas cristãs. E muitos cristãos são forçados a viver submetidos a um controle externo feito pelas suas lideranças religiosas – foi isso que eu apelidei de “religião do não”.
Será que isso agrada a Jesus?
Penso que não e me explico. Se olharmos para os ensinamentos de Jesus, veremos que Ele não se preocupou em estabelecer um esquema para controle da vida das pessoas. Por exemplo, quando lhe perguntaram como fazer para cumprir a lei do “amor ao próximo”, Jesus simplesmente contou a parábola do “bom samaritano” (Lucas capítulo 10, versículos 30 a 37). Demonstrou que a melhor forma para ensinar as pessoas a viver era dar um bom exemplo.
Jesus agiu assim porque desejava que as pessoas assumissem interiormente a aceitação das leis dadas por Deus e passassem a viver normalmente com base no seu cumprimento. Em outras palavras, Jesus não defendia a ideia que a vontade de Deus deve ser imposta de fora para dentro, com base num controle externo, inclusive apelando para ameaças de punição. O comportamento correto precisa se alcançado a partir de uma mudança do interior, que começa na conversão.
O apóstolo Paulo completou esse ensinamento afirmando que as leis deixariam de ser necessárias se as pessoas mudassem de fato, pois aí a própria consciência delas passaria a ser um guia confiável.
Ora, se foi isso que Jesus e Paulo ensinaram, por que o cristianismo continua frequentemente sendo uma religião baseada no controle externo, uma “religião do não”? Por que tantos líderes cristãos ainda entendem ser preciso regular a vida das pessoas, chegando a detalhes como controlar a música que elas ouvem, os lugares que frequentam, com que se relacionam, etc?
Penso que há duas razões para isso. Primeiro, porque é mais fácil liderar uma comunidade cujo comportamento é controlado por regras bem definidas. Quando não há mais nada a debater e cabe às pessoas apenas obedecer e cumprir o que lhes foi imposto.
A segunda razão para a predominância da “religião do não” é que tal linha de conduta dá muito poder aos líderes religiosos. Afinal, cabe a eles definir o que as pessoas podem ou não fazer – é frequente encontrar comunidades cristãs onde pessoas pedem permissão aos pastores até para comprar uma geladeira nova.
Reconheço que as pessoas, logo depois de se converterem e antes de serem discipuladas adequadamente, precisam passar por uma fase da sua vida espiritual onde se torna necessário dizer para elas o que fazer, especialmente quando essas pessoas viviam antes uma vida muito desregrada. Mas isso só deve acontecer por pouco tempo, até que as pessoas aprendam a distinguir o certo do errado, isto é, sejam adequadamente “educadas” em termos espirituais.
Essa estratégia é a mesma que usamos no processo de educação das crianças. No início da vida delas, antes de serem devidamente educadas, os pais precisam lhes dizer o que fazer. Mas depois elas precisam aprender a tomar suas próprias decisões e fazer isso da forma certa.
Concluindo, se sua igreja tenta controlar a vida dos membros, se nela o que mais se ouve é “você não pode fazer isso ou aquilo” e se você não é incentivado a aprender a tomar as decisões certas, com base num conhecimento sólido da doutrina cristã, provavelmente esse não é o melhor lugar para você viver o cristianismo.
Com carinho