A crença central do cristianismo é a realidade de Jesus ser o Salvador da humanidade. É nisso que acreditamos e é essa crença que nos permite ter esperanças de alcançar a vida eterna.
Hoje eu gostaria de discutir o mecanismo relacionado com esse processo de salvação, visando responder a pergunta: Como a morte de Jesus na cruz consegue resolver o problema do pecado humano e gerar reconciliação com Deus?
O pecado humano
O pecado entrou no mundo com Adão, quando ele e Eva desobedeceram a Deus e comeram o “fruto proibido”. Esse é o chamado “pecado original”. Mas, como esse ato de Adão e Eva veio impactar todos os seres humanos? O apóstolo Paulo respondeu essa pergunta, explicando que Adão foi considerado por Deus como o representante de toda a raça humana (Romanos capítulo 5, versículos 12 a 21).
Isso pode parecer estranho: alguém representar você em assuntos de enorme importância. Mas, a ideia de haver um representante para as pessoas é muito comum – por exemplo, elegemos periodicamente deputados, senadores e vereadores para nos representarem e as leis que essas pessoas fazem valem para todo mundo. É como se o próprio povo tivesse diretamente feito essas leis.
Você poderia ainda argumentar que Adão não foi eleito, e sim escolhido, para ser nosso representante. Ou seja, não fomos consultados para dar nossa representação para Adão. Mas, é preciso considerar que foi Deus quem nos criou e, portanto, Ele tem total soberania sobre nossas vidas. É direito dele escolher um representante para nós, gostemos ou não dessa ideia, pois a Ele devemos tudo.
E se olharmos para a história humana, sempre existiram representantes não eleitos pelas pessoas, como reis, rainhas e papas. E essa representação sempre teve alcance extraordinário – por exemplo, na época da Reforma Protestante, que gerou uma série de guerras religiosas, se o soberano de determinado território mudasse de religião, digamos deixando de ser católico para tornar-se luterano, todo o seu povo era obrigado a fazer o mesmo. O soberano agia como representante de todos.
Adão foi designado nosso representante por Deus e, como ele pecou, abriu as portas para o pecado para toda humanidade – os teólogos explicam isso, dizendo que o ser humano passou a ter natureza pecaminosa ou “caída” (Salmo 51 capítulo 5). E, por causa disso, todos pecam, conforme o apóstolo Paulo mesmo reconheceu.
E é fácil perceber essa tendencia já nas crianças bem pequenas: não precisamos ensiná-las a mentir, a bater nos mais fracos, a ser egoístas, etc. Os adultos precisam sim ensinar-las a serem virtudes, como falar a verdade, repartir aquilo que têm com as outras pessoas e assim por diante.
Como, então, resolver esse problema e re-aproximar os seres humanos pecadores de Deus, que é santo e não tolera e nem convive com o pecado. Há três alternativas a fazer isso. Vamos vê-las:
A primeira abordagem para o problema do pecado
A abordagem que parece mais lógica é o ser humano trabalhar para tornar-se bom, para conquistar a aceitação de Deus pelos próprios méritos, através de boas obras.
Mas, a experiência demonstrou que esse caminho não leva a lugar nenhum. Isso porque os padrões de Deus para santidade são muito altos e comprovamos isso consultando os mandamentos que Deu nos deu, conforme registrado na Bíblia – vem daí as leis para não matar, roubar, honrar pai e mãe, dar dízimo, etc. Como também o ensinamento de Jesus que pecamos também por pensamentos e palavras e não somente pelo que fazemos (obras).
As pessoas não conseguem ficar sem pecar, pois isso é da sua natureza e como os padrões morais de Deus são muito altos, ninguém conseguiria juntar mérito bastante para ser salvo e se reconciliar com Deus. Simples assim.
Portanto, a salvação não pode vir por mérito. Esse parece ser o caminho mais fácil, mas é uma grande ilusão. E demorou um tempo, mas as pessoas acabaram percebendo isso – basta ler os relatos da Bíblia que isso fica claro.
A segunda abordagem: o sistema sacrificial
A Bíblia explica que o “preço” do pecado, isto é, a forma de pagar por ele, é o sangue do pecador. Isso significa que o pecador somente sente de fato a punição quando é diretamente afetado por ela, como no caso de castigo físico, a prisão, a perda de dinheiro ou bens, por multas, etc.
Ora, como os seres humanos pecam continuamente, não haveria “sangue” humano que bastasse para cobrir todos os pecados. Por conta disso, Deus permitiu o “sistema de sacrifícios”, pelo qual o sangue de animais era derramado como expiação (em intenção) pelos pecados dos seres humanos. Assim, bodes, carneiros, bois e outros animais eram continuamente sacrificados no Templo de Jerusalém – para cada pecado, um sacrifício precisava ser feito. Um ciclo sem fim.
O problema com o sistema sacrificial é que ele não concorre para corrigir o caráter das pessoas, pois não gera arrependimento verdadeiro e mudança interior. Pelo contrário, de certa forma, o sistema sacrificial as anestesia diante do pecado, ao fornecer uma saída aparentemente fácil – basta pagar o preço do animal a ser sacrificado. Portanto, esse caminho também não resolve o problema.
A terceira alternativa: a Graça de Deus
A solução que Ele nos deu para esse problema foi tão surpreendente como brilhante: a sua Graça, incorporada em Jesus. Ele veio ao mundo e morreu por nós, na cruz, num sacrifício em intenção por todos os pecados humanos – a Bíblia explica isso dizendo que Jesus carregou sobre si os nossos pecados.
E ao morrer na cruz, Jesus recebeu em nosso lugar a punição que nos era devida. Em outras palavras, Jesus ofereceu-se como cordeiro para o sacrifício definitivo em prol da eliminação dos pecados humanos. E com esses pecados eliminados, podemos nos reconciliar com Deus e alcançar a salvação. É por isso que Jesus é chamado de “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo“.
Como Jesus, além de humano, também é divino, seu sacrifício não tem efeito limitado, como o do sangue dos animais. O sangue de Jesus tem poder extraordinário e apaga todos os pecados cometidos por qualquer ser humano, tanto quem viveu antes da sua vinda ao mundo, como aqueles, como nós, que viemos depois. Jesus é o sacrifício final e suficiente e nada mais precisa ser feito.
Jesus substituiu Adão
Outra coisa que o sacrifício de Jesus fez foi superar o “pecado original”. Isso porque Jesus é o “segundo Adão”, outro representante para a humanidade. Assim como Adão pecou e seu pecado nos afetou a todos, Jesus viveu uma vida perfeita aos olhos de Deus e foi obediente até a morte, e isso conta a nosso favor, superando o pecado cometido por Adão.
E essa é a principal razão pela qual Jesus precisava também ter natureza humana – caso contrário não poderia nos representar. Por isso Ele foi gerado por obra do Espírito Santo, junto a uma mulher, Maria.
Aí está a explicação das duas naturezas de Jesus: divina e humana. A natureza divina era necessária para que seu sacrifício tivesse o alcance necessário e durasse para sempre. A humana era necessária para que Jesus pudesse nos representar, substituindo Adão.
Como o sacrifício de Jesus se torna efetivo
Agora, existe uma condição para que o sacrifício de Jesus possa ter efeito na vida de qualquer pessoa: é preciso que ela reconheça ser pecadora, arrependa-se e perceba que precisa da Graça de Deus, aceitando Jesus como seu Salvador pessoal. Nem mais, nem menos.
Alguns pensadores chegam a dizer que, ao aceitar Jesus, o ser humano passa a ter, pelo menos em parte, algum mérito na sua própria salvação. Mas essa visão está errada. Um exemplo ajuda a explicar a razão. Imagine que alguém deu para você um presente – um cheque nominal de valor elevado. Se você não for ao banco depositar o tal cheque, ficará sem o dinheiro. E, mesmo depositando o cheque, a quantia recebida não terá deixado de ser um presente.
Seu ato (depositar o cheque) não dará a você qualquer mérito – o depósito será simplesmente o ato que tornará efetivo o presente recebido. Nada mais. E é a mesma coisa com a salvação: não há mérito em aceitar Jesus como Salvador. Mas sem cumprir essa condição, ou seja, sem fé nele, como Salvador, a Graça de Deus não se torna eficaz.
Com carinho