QUER DAR AJUDA, MAS ATRAPALHA

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Muito ajuda quem não atrapalha. Esse é um ditado bastante conhecido e bem verdadeiro. Ele aponta que muitas vezes alguém que dar ajuda, mas acaba mesmo é atrapalhando. E essa situação tem tudo a ver com a crise atual, conforme explico a seguir.

Em momentos de crise, muita gente quer dar ajudar quem parece estar em dificuldade. Mas, infelizmente, alguns desses “ajudadores” atrapalham mais do que realmente ajudam, por conta das suas ações, conselhos, etc.

Em outro estudo recente sobre a crise atual (veja mais), apelidei as pessoas que atrapalham, mesmo quando têm intenção de dar ajuda, de “estrangeiros”. E esse apelido foi inspirado no texto de Números 11:4-10:

Um bando de estrangeiros que havia no meio deles encheu-se de gula, e até os próprios israelitas tornaram a queixar-se, e diziam: “Ah, se tivéssemos carne para comer! Nós nos lembramos dos peixes que comíamos de graça no Egito, e também dos pepinos, das melancias, dos alhos porós, das cebolas e dos alhos. Mas agora perdemos o apetite; nunca vemos nada, a não ser este maná!” O maná era como semente de coentro e tinha aparência de resina e o povo o colhia nas redondezas, e o moía num moinho manual ou socava-o num pilão; depois cozinhava o maná e fazia bolos. O gosto era de bolo amassado com azeite de oliva. Quando o orvalho caía sobre o acampamento à noite, também caía o maná. E Moisés ouviu gente de todas as famílias se queixando, cada uma à entrada de sua tenda.

Esse texto cita um grupo de estrangeiros (não israelitas) que seguia junto com o povo de Israel desde a saída do Egito. Esses estrangeiros tomaram a decisão de se juntar a Israel por dois motivos: o desconforto que sentiam com sua vida no Egito e o reconhecimento do poder de Deus, que os estrangeiros puderam perceber através dos muitos milagres realizados por Moisés. Eles, então, devem ter calculado que estariam melhor se andassem junto com Israel, pois perceberam que aquele povo era protegido por uma divindade muito poderosa.
Mas, esses estrangeiros foram surpreendidos pelas as dificuldades que Israel encontrou na sua trajetória entre o Egito até a Terra Prometida, especialmente durante o longo período de peregrinação pelo deserto. E, inconformados com as dificuldades inesperadas, começaram a reclamar de Moisés. E sua atitude serviu de estopim para uma revolta do povo de Israel.

O povo esqueceu-se de tudo que Deus tinha feito até então, através de Moisés, para tirá-lo de uma longa escravidão no Egito. E o que mais surpreende nessa revolta dos israelitas é que eles chegaram a demonstrar saudade do período de cativeiro, alegando que lá comiam muito melhor e, naturalmente, esquecendo-se do sofrimento que lhes foi imposto pelos egípcios. E, o que foi ainda pior, desprezaram o maná, o alimento que Deus lhes mandava milagrosamente todos os dias. Essa atitude foi uma enorme ingratidão com Deus e isso acabou custando caro para Israel, pois esse pecado não passou em branco aos olhos de Deus.

Foram estrangeiros que influenciaram esse processo. Talvez, quando eles começaram a reclamar, quisessem até dar ajuda, imaginando poder influenciar Moisés a conduzir o povo por um caminho fora do deserto. Mas, deixando de lado sua intenção, a realidade é que sua intervenção acabou tirando o foco de Israel daquilo que Deus vinha fazendo.

E você corre um risco parecido com esse nos dias de hoje, encontrando “estrangeiros” que venham a atrapalhar sua vida, ainda que tenham vontade de dar ajuda. Mas, antes de tudo, é preciso esclarecer quem seriam os “estrangeiros” nos dias de hoje.

E, para esclarecer essa questão, preciso começar lembrando que, no texto citado acima, estrangeiros eram basicamente aquelas pessoas que não tinham sangue israelita. Agora, essa não era uma classificação definitiva, pois os estrangeiros podiam ser adotados por Israel, passando a pertencer de pleno direito ao povo. Bastava que eles se convertessem a Deus e passassem a seguir os preceitos da religião israelita. Um bom exemplo disso é Rute, mulher moabita, que escolheu seguir sua sogra israelita, Noemi, mantendo-se totalmente fiel a ela (Rute capítulo 1, versículos 16 e 17). Rute foi adotada por Israel e passou a pertencer ao povo de pleno direito. Acabou se tornando avó do rei Davi e, portanto, entrou na linhagem de Jesus, o que é uma grande honra.

Resumindo, então, eram considerados estrangeiros naquele tempo as pessoas não tinham sangue israelita e também não haviam se convertido a Deus. Tais pessoas não eram expulsas ou maltratadas por Israel, mas não eram consideradas parte do povo. No final das contas, então, era o fato de converter ou não a Deus que dava a palavra final sobre quem seria era adotado por Israel ou quem se mantinha na condição de estrangeiro.

Voltando aos dias de hoje, os “estrangeiros” na vida de qualquer cristão são as pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia, mas não são convertidas a Deus. Frequentemente são pessoas extremamente importantes para ele, como esposo/a, irmãos, filhos, parentes ou amigos.

Não estou aqui propondo que o cristão deve se afastar de todos os “estrangeiros” que estão na sua vida. Afinal, muitas dessas pessoas são extremamente importantes para ele e, além disso, o cristão precisa se aproveitar dessa situação para evangelizar tais pessoas.  Esse tipo de situação é bem comum e não há nada de errado com tal fato – eu mesmo também tenho “estrangeiros” na minha vida e não penso em me afastar dessas pessoas.

Para efeito dessa discussão, os “estrangeiros” também podem ser intelectuais, artistas, esportistas ou até políticos que o cristão admire, cujo exemplo o inspire e cuja opinião respeite. Em outras palavras, pessoas das quais não seja íntimo, mas que influenciem suas atitudes.

O perigo ao qual me refiro é você se deixar influenciar por “estrangeiros” e mudar seu comportamento em relação a Deus. Em outras palavras, cair no mesmo erro de Israel, por deixar de reconhecer o que Deus fez, e faz, na sua vida, e, assim, tornar-se ingrato.

Vou dar um exemplo para ficar mais claro. Imagine que alguém muito querido por você fique gravemente doente e, a seu pedido, diversos irmãos na fé comecem a orar pela recuperação da pessoa enferma. E aí ela se recupera e, quando você comenta com um ‘estrangeiro” que Deus atuou naquela vida, ouve que as orações nada tiveram com aquela recuperação, pois o mérito foi dos remédios e dos médicos. Caso você se deixar influenciar por essa reflexão e não louve e nem agradeça a Deus como deveria, esquecendo-se que foi a mão divina que colocou no caminho do enfermo o médico certo e a medicação adequada, estará agindo como Israel fez no passado. Estará deixando que um “estrangeiro” desencaminhe você.

Como a influência dos “estrangeiros” acontece
Antes de tudo, é preciso reconhecer que a influência dos “estrangeiros” pode ser bem-intencionada, não tendo outra motivação que não seja a de dar ajuda, mas também pode seguir interesses menos nobres, como desviar você da sua fé. Ambas as coisas acontecem com frequência. Vou dar alguns exemplos dessas diferentes situações.

Um exemplo de tentativa bem-intencionada de dar ajuda é a seguinte. Muitos anos atrás, eu passava por grandes dificuldades financeiras – foi um momento muito difícil na minha vida. Aí, uma pessoa de quem gosto muito, que é seguidora da astrologia, tentou fazer meu mapa astral, alegando que essa informação poderia me ajudar a encontrar caminhos melhores. E as razões para minha recusa foram duas. Primeiro, essa prática é proibida na Bíblia – simples assim. Segundo, se eu tivesse feito o tal mapa e ficasse sabendo que deveria fazer determinada coisa para melhorar minha vida, isso acabaria trazendo confusão na minha mente – sempre ficaria a dúvida de seguir ou não tal indicação. Preferi não correr esse risco e continuar apenas com as minhas orações. Minha situação melhorou e eu não tenho qualquer dúvida que isso se deveu somente à ação de Deus e sou sempre grato a Ele.

Um exemplo de tentativa maldosa de influenciar os cristãos é o caso de um jornalista famoso, com muitos seguidores no Twitter, que recentemente postou uma mensagem afirmando, com a maior cara de pau, que a grande quantidade de mortes de cristãos pelo COVID 19 provava que não existe cura divina. E, foi ainda mais adiante, afirmando que todas as promessas feitas pelo cristianismo não passam de uma fraudes.

É claro que a morte de pessoas não comprova que Deus não existe ou não age, pois há diversas outras explicações para crises como a atual. Uma delas, por exemplo, é o reconhecimento que Deus nos deu o livre arbítrio e, infelizmente, as pessoas fazem mal-uso desse recurso. E é por causa disso que os governos não investem o suficiente na rede pública de saúde, pois os políticos preferem privilegiar outras coisas. E a população mais carente é que mais sofre com esse descaso e esse problema não é da responsabilidade de Deus.

As formas usadas pelos “estrangeiros” para influenciar o cristão são as mais diversas e consegui catalogar as quatro mais comuns dentre elas e não importa se a intenção seja mesmo a de dar ajuda. A mais popular, sem dúvida, é o envio de textos ou vídeos que parecem “interessantes”, parecem apenas dar ajuda, mas no fundo promovem ideias contrárias ao cristianismo. Nos últimos tempos eu recebi grande quantidade de vídeos e textos de intelectuais ateus, contendo reflexões que “comprovam” que Deus está se tornando desnecessário nesses tempos de pandemia. Também recebi material criado por artistas famosos, que seguem outras religiões, testemunhando como seus deuses os ajudaram nesses momentos difíceis. O objetivo com esse tipo de ação é colocar dúvidas na mente do cristão, fazendo com que ele questione os ensinamentos da sua fé.

A tentativa de influenciar o cristão também pode também tomar a forma de sugestões para que ele siga práticas vedadas para nós pela Bíblia, mas que parecem não conter mal algum, tais como participar de simpatias, seguir conselhos do horóscopo e outras coisas assim. Na verdade, essas práticas acabam se tornando porta de entrada para um caminho perigoso.

Outras vezes essa tentativa de interferência vem na forma de conselhos que procuram convencer a pessoa que ela se basta, coisa típica da autoajuda. A ideia é proposta é que, se a pessoa usar plenamente seu próprio potencial, conseguirá superar seus problemas e atingir seus objetivos. Em outras palavras, a ideia é fazer com que você passe a considerar a si mesmo como o seu próprio deus, prescindindo da presença do Deus verdadeiro.

Finalmente, há também quem use o caminho da crítica à ação das organizações cristãs (como as igrejas) durante a crise, procurando passar a mensagem que seus erros comprovam que o cristianismo não serve. É verdade que organizações cristãs cometem erros frequentes, não há qualquer dúvida quanto a isso. Elas poderiam fazer mais e melhor para ajudar as pessoas durante crises como a atual. Mas, isso só demonstra como os cristãos são seguidores imperfeitos de Jesus e nunca que os ensinamentos do nosso Mestre estão errados.  

Concluindo, momentos como o atual deixam as pessoas mais vulneráveis, mais carentes de atenção e direção. E é por isso que a ação dos “estrangeiros se torna ainda mais perigosa, mesmo quando estão bem intencionados, querendo apenas dar ajuda.

Portanto, cuidado para não se deixar influenciar por eles e vir a perder a perspectiva da presença e da ação de Deus na sua vida. 

Com carinho

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