Cada um/a de nós tem um conjunto de ideias (pressupostos, princípios de vida, etc) que absorveu ao longo da vida, especialmente quando jovem. São essas ideias que dão para a pessoa um significado para o mundo onde ele vive. Esse conjunto de ideias é a visão de mundo ou cosmovisão dessa pessoa.
A cosmovisão funciona, na prática, como um par de óculos com lentes coloridas, através do qual a pessoa vê o mundo onde vive – se os tais óculos forem de cor vermelha, a pessoa vai ver o mundo à sua volta dessa cor, de forma bem diferente de outra pessoa que use óculos da cor verde.
Nessa metáfora, o conjunto de ideias é a “cor dos óculos”. Ideias diferentes “colorem” de forma diversa o mundo onde se vive. É por isso que uma pessoa criada numa família evangélica certamente vai entender o mundo de forma bem diferente de outra criada, digamos, por pais ateus. As duas pessoas certamente terão visões de mundo (cosmovisões) diferentes, pois entenderão e explicarão o mundo de maneira bem diferente.
Do que uma cosmovisão trata?
Uma cosmovisão costuma responder uma série de perguntas que todos os seres humanos costumam fazer tanto para si como para as outras pessoas:
- Quem manda no universo e controla tudo?
- Quem é o ser humano? Qual é o seu significado e valor?
- O que o ser humano tem medo de perder? Ou seja, qual a origem dos nossos medos?
- O que há de errado no mundo? Ou seja, o que explica tanto problema (violência, desigualdade, injustiça, etc)?
- Qual é a solução para essa situação?
É claro que uma cosmovisão não pode responder somente essas perguntas, pois há muitas outras perguntas relevantes que precisam ser respondidas. Mas essas cinco perguntas representam bem o tipo de questões que precisamos responder para fazer sentido do mundo onde vivemos.
Para não ficar apenas no plano teórico, vamos ver como isso funciona na prática. Vamos imaginar que as cinco perguntas acima são feitas para duas pessoas. Uma delas é Maria, cuja cosmovisão é cristã (foi criada numa família evangélica). E a outra é João, criado por pais ateus, e cuja cosmovisão é materialista (acredita só existir o mundo material, não havendo dimensão espiritual na vida).
Como consequência das cosmovisões diferentes que têm, Maria e João olham para o mundo que os cerca e seus problemas de forma bem diferente.
Como os dois responderiam a primeira pergunta da cosmovisão (o que comanda o mundo?). Maria diria de imediato: Deus. E acrescentaria que foi Ele quem criou tudo que existe e o universo depende da sua ação contínua para se manter organizado.
A resposta de João para essa mesma pergunta seria bem diferente: não há nada no controle do mundo. O universo e toda vida que nele há são obra do acaso. Para justificar isso, João vai apelar para teorias científicas como a evolução, por exemplo.
Já a segunda pergunta – quem sou eu? – seria respondida por Maria afirmando que o ser humano foi criado por Deus à sua imagem e semelhança. E o seu valor vem justamente dessa “centelha” divina que existe em cada pessoa. E nosso objetivo deve ser viver junto a Deus.
Já João diria que não há significado na vida – se a vida é obra do acaso, tanto poderíamos existir como não existir. Logo, a vida não tem nenhum significado maior. E tudo acaba com a morte.
A terceira pergunta – o que tenho medo de perder? – seria respondida por Maria falando da importância de manter a conexão com Deus. Manter essa conexão (o que a doutrina cristã chama de salvação) é a coisa mais importante para qualquer ser humano. Já João iria dizer que só teme perder sua vida, pois não há nada para se preocupar depois.
A pergunta sobre o que está errado no mundo (o que gera tantos problemas na sociedade atual), seria respondida por Maria falando do “pecado”. É exatamente a propensão do ser humano para pecar (fazer aquilo que é errado aos olhos de Deus) que coloca o mundo no estado atual. Livres do pecado, as pessoas se portam muito melhor.
Já João, com sua visão materialista, iria dizer que o problema do mundo é a falta de acesso à educação e à cultura. Para ele, pessoas educadas e cultas se portam muito melhor.
Finalmente, a quinta pergunta – qual a solução para esse problema? – seria respondida por Maria chamando as pessoas a se converter a Jesus e mudar sua forma de viver (santificar-se). Se muitas pessoas fizerem isso o mundo mudaria para muito melhor.
Já João vai defender ações humanistas em larga escala, como grandes programas de educação das pessoas, leis para melhorar a igualdade de oportunidades e assim por diante. Segundo ele, as pessoas têm o potencial de melhorar o mundo se fizerem as coisas certas.
Como você pode ver, são respostas muito diferentes para as mesmas preocupações. A diferença entre visões de mundo explica porque as pessoas têm tanta divergência de opiniões no mundo atual e haja tanta discussão nas redes sociais. O pior é que elas não entendem que têm opiniões diferentes sobre as coisas porque possuem visões de mundo muito distintas – o que parece razoável para uma pessoa pode ser absurdo para outra.
Requisitos para uma cosmovisão saudável
Agora, uma cosmovisão que seja saudável, segundo os/as filósofos/as especializados/as nesse tema, precisa preencher três requisitos. O primeiro deles é a capacidade de explicar bem a realidade. Se houver coisas que a cosmovisão não consegue explicar, isso indica uma fraqueza dela.
Voltando ao exemplo da diferença entre a cosmovisão cristã e a cosmovisão materialista, a segunda, conforme já disse, não consegue explicar qual é o significado da vida humana – dizer, como afirmam os/as materialistas, que estamos nesse mundo por mero acaso, não parece uma explicação muito razoável. E o materialismo tem outras lacunas igualmente importantes: por exemplo, não consegue explicar como a vida é tão maravilhosamente organizada (basta lembrar do DNA para saber do que estou falando).
Nesse sentido a cosmovisão cristã é superior à materialista, pois tem respostas melhor estruturadas para todas as questões da vida.
O segundo requisito para uma cosmovisão saudável é a coerência. A cosmovisão não pode obrigar as pessoas a acreditar em coisas absurdas e as ideias nela incluídas não podem entrar em choque umas com as outras.
Por exemplo, hoje em dia há uma cosmovisão muito popular que é o relativismo – ela defende que não há verdades absolutas (aquelas válidas para todo mundo em qualquer época da história). Assim, tudo é uma questão da opinião da pessoa.
Vem do pensamento relativista as frases do tipo “você tem a sua verdade e eu a minha” e “todos os caminhos levam a Deus”. O relativismo é popular por ser uma visão de mundo simpática, pois, segundo ele, ninguém está absolutamente certo, mas também ninguém está errado. É uma visão de mundo que parece respeitar a diversidade de opiniões.
O problema com o relativismo é sua incoerência – é uma visão simpática, mas contraditória. A afirmação que está na base da cosmovisão relativista – “não há verdade absoluta” – é uma contradição e é fácil de ver a razão para isso. Se ela for uma verdade absoluta (que todos devem aceitar), a afirmação não faz sentido, pois afirma que não existe exatamente aquilo que ela mesma é. Se não for uma verdade absoluta, o relativismo não se sustenta na origem. Ou seja, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come“.
É interessante perceber como há muitas pessoas que defendem as ideias relativistas sem perceber que sua cosmovisão é incoerente e não faz qualquer sentido lógico.
E vale notar que esse é um problema que a cosmovisão cristã não tem: suas ideias são coerentes – falo sobre isso em muitas postagens deste site.
O terceiro requisito de uma cosmovisão saudável é a capacidade de ser vivida na prática. As ideias defendidas pela cosmovisão em questão não podem levar as pessoas a situações absurdas.
E o relativismo, que comente acima, é uma cosmovisão exatamente assim. Por exemplo, quando um seguidor da cosmovisão relativista vai ao médico e ouve que precisa fazer um tratamento contra o câncer, será que faria sentido ele dizer: “doutor, você tem a sua verdade eu a minha, então eu acho que não tenho nada”. Seria loucura fazer isso e o relativista provavelmente vai aceitar o diagnóstico do médico como uma verdade e vai seguir o tratamento prescrito.
Em outras palavras, a cosmovisão relativista não pode ser vivida plenamente na prática. Algumas afirmações sempre precisarão ser aceitas como verdadeiras, seguindo o consenso geral. E esse é outro problema que a cosmovisão cristã não tem – é plenamente possível levar suas doutrinas até as últimas consequências, como muita gente boa já fez ao longo da história, como é o caso do apóstolo Paulo, de São Francisco de Assis ou de Nelson Mandela.
Concluindo, o fato de existirem diferentes cosmovisões seguidas pelas pessoas explica bem porque há tanta confusão de opiniões entre as pessoas hoje em dia. E também porque elas se surpreendem tanto quando outras pessoas olham para as mesmas informações e tiram conclusões totalmente diferentes.
Agora, você pode ter certeza que a cosmovisão cristã é sólida – não tenho espaço nesta postagem para comprovar tal afirmação, mas há inúmeras postagens neste site que fazem isso. Se você tiver qualquer dúvida, também pode mandar sua pergunta.
Com carinho